26/02/2008

Distúrbio

Um sorriso inquieto ao amanhecer.
O sol a brincar nos teus olhos.
Dizes acho que gosto demasiado de ti,
e um lugar estranho ocupa tudo aquilo que és.
Não te sinto perto – nunca te senti perto.
Pergunto sempre onde foste e nem sei de onde surgiste.
Nunca sei dos teus olhos.Só a memória – restrita, ausente, incapaz.
Só a memória e o amanhã não existe.
E sei,por todos os caminhos que vagueiam nas minhas mãos,
que o amanhã não existe e que amanhã não existes,
pois se me consumiste toda em insatisfação.
Nunca fui tua.
Tiveste-me entre mãos e eu nunca fui tua.
Vivi nos teus olhos, na tua cama,rente ao teu corpo
tantas vezes e tantas vezes me perdi.
Não preciso de ti.
Não preciso de ti.
Não preciso de ti assim como ninguém precisa de quem nunca se dá.
Assim como ninguém quer um fim traçado ao início.
Nunca poderás dizer que nunca me dei.
Nunca poderás ver os meus olhos,
perdidos de medo,a jurar um prenúncio de morte.
Já não sei mais que a escolha gratuita dos homens,
que a vulgar tentação da carne rendida ao sol.
Perco-me por entre portas.
Perco-me em copos sujos, saliva oferecida,sensação abrupta da tua ausência.
Só um sonho e uma ideia ao despertar –palavras que escorrem do meu peito.
E pergunto, de punhos cerrados, se será isto o fim.
Ou então um começo, efémero enquanto pode,
de mover as pálpebras como quem encerra a noite num segundo.

Tu – és tudo aquilo que nunca me deste.
E eu sou o mundo que nunca terás.

Um dia – e tudo muda.

T.

3 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns! Este texto está simplesmente divinal... Em poucas palavras deste vida a imensos sentimentos...

Juka disse...

Quem escreveu? É muito forte...

Anónimo disse...

Podia ser a letra de uma música do Pedro Abrunhosa, há alguma semelhança.