12/07/2007

Salvem os patinhos de borracha











12.07.2007, Marina Chiavegatto

Esta é já uma história épica: 29 mil patinhos de borracha estão há 15 anos à deriva nos oceanos. Agora farão a sua entrada triunfal ao aparecer na costa inglesa. E talvez na portuguesa também. Cada um vale 73 euros.

Parecia uma viagem normal de transporte de brinquedos de borracha da China para os Estados Unidos. Mas naquela noite chuvosa de Janeiro, algo de estranho aconteceu. Estávamos no ano de 1992 quando um grupo de 29 mil patos amarelos, tartarugas azuis, sapos verdes e castores vermelhos de borracha se libertaram do navio de carga que os levava para os EUA, deixando-os à deriva a nadar livremente nas águas oceânicas. Agora, 15 anos após o naufrágio, diz-se que irão aparecer na costa inglesa, e, quem sabe, na portuguesa também.

Esta história insólita é verídica. Graças à resistência do plástico, que não permite que a água entre para dentro dos animais coloridos, muitos deles conseguiram sobreviver a anos de viagens e a diferentes tipos de clima. Os oceanógrafos prometem agora que estas criaturas de borracha serão, finalmente, recompensadas pela sua viagem que acabou por se revelar uma viagem a favor da ciência. Diz-se que nadaram mais de 27 mil quilómetros e, apesar de alguns terem ficado retidos no frio congelante do Ártico, outros resistiram e chegarão agora a Inglaterra.
O oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer dedica todo o tempo da sua reforma a seguir o rasto dos patinhos amarelos e dos seus amigos. "Tenho tido informação de que os patinhos estão a aparecer na costa Este americana e, portanto, inevitavelmente, eles irão apanhar as correntes do Atlântico e chegar às praias inglesas por volta do Verão", disse à imprensa inglesa.
Isabel Ambar, oceanógrafa física na Universidade de Lisboa, explica que, se os patinhos estão a chegar à costa inglesa, existe então a possibilidade de alguns dos brinquedos chegarem, mais ou menos na mesma altura, à costa portuguesa.

O giro subtropical

A viagem passa-se da seguinte maneira: se os patos estão a ir para Inglaterra, significa que apanharam o giro subpolar. A sul desta corrente encontra-se o giro subtropical. Se alguns dos brinquedos forem parar um pouco mais para sul, podem ser apanhados pelas correntes do giro subtropical que desemboca na corrente Portugal. É isso que poderá fazer com que os patinhos surjam na costa portuguesa por volta do Verão.
Na verdade, não existem provas concretas de que os patinhos estejam realmente ainda a nadar no oceano. Mas Isabel Ambar diz que é possível, uma vez que funcionam como bóias derivantes.
Ebbesmeyer traça o percurso dos brinquedos através de um modelo de computador construído pelo seu colega Jim Ingraham, da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), e que tem ajudado os oceanógrafos a compreender melhor as correntes. Joaquim Dias, professor na faculdade de Ciências na Universidade de Lisboa, explica que estes patinhos se tornaram uma experiência importante: "São traçadores de correntes, ou seja, ajudam-nos a compreender a circulação média do oceano à superfície."
Cada vez que um animal de borracha é encontrado, actualiza-se o OSCURS (Simulador de Correntes Oceânicas à Superfície). "É impressionante o que se pode aprender através de um patinho de borracha", disse Ebbesmeyer à imprensa inglesa. Os dois cientistas conseguiram calcular a velocidade de circulação dos patinhos de borracha à superfície, graças à data do seu primeiro aparecimento na costa do Alasca, onde mais de 400 animais de borracha foram encontrados nove meses após o derrame dos contentores.
O caso dos patinhos é já mundialmente conhecido e até aparece como exemplo num dos livros que Isabel Ambar utiliza como introdução à oceanografia, An Introduction to the World"s Oceans, de A.C.Duxbury e A.B.Duxbury, publicado em 1997.
Esta não é a primeira vez que um episódio deste tipo acontece. Em 1990, alguns contentores de ténis da Nike também caíram ao mar, deixando à deriva 61 mil ténis de corrida. Alguns meses mais tarde, cerca de 1600 Nike foram encontrados na costa norte da América, desde o Alasca até Oregon.
Casos como estes, não são apenas histórias curiosas para se contar aos netos, mas são factos que nos alertam também para questões de maior relevância, como o problema da poluição dos oceanos. Ebbesmeyer diz que se perdem cerca de 10 mil contentores por ano nos mares. Estes contentores acabam sempre por se partir e derramar a sua carga no mar. Patinhos e ténis de corrida são apenas alguns objectos que ajudam os mais distraídos a compreender um dado objectivo: aquilo que cai ao mar não desaparece, mas vai acabar sempre nalgum lugar, quer seja numa praia ou num icebergue.
É claro que não estamos à espera que na costa inglesa ou portuguesa apareça de repente uma onda de 29 mil animais de borracha. Mas os banhistas que estejam atentos, porque a empresa The First Year, fabricante dos patinhos, oferece 100 dólares (73 euros) por cada animal encontrado e devolvido. O jornal The Times acrescenta que estes patinhos, mais do que um conjunto de brinquedos perdidos no mar, são já um objecto de colecção e que podem valer cerca de mil dólares (734 euros) no mercado coleccionista.

Um negócio para o Verão

Ebbesmeyer colou cartazes perto das praias, pedindo aos banhistas para entrarem em contacto consigo - www.beachcombers.org -, caso avistem algum patinho de borracha perdido no mar.
No site do oceanógrafo Curtis Ebbesmeyer podemos ver que até agora apenas dois animais foram encontrados fora do Alasca. Um patinho chegou ao Maine, nos EUA, em Julho de 2003 e um sapo foi encontrado na Escócia no mesmo ano. Mas os oceanógrafos explicam que isso não significa que mais nenhum animal tenha entretanto aparecido na costa. O problema é que se calcula que agora os animais tenham perdido a cor e possam estar um pouco deformados. Quem é que prestaria atenção a um pato velho de plástico a boiar nas águas? Ninguém. A não ser que soubesse que isso poderia ser um bom negócio de Verão.
Entretanto, os brinquedos tornaram-se objectos de culto e esta história, que é já quase um romance policial, foi até inspiração de livros infantis.
Eric Carle usou-a para escrever e ilustrar o livro 10 Little Rubber Ducks (10 patinhos de borracha). No Museu de Tacoma, no Alasca, foi feita uma exposição que enquadra a obra de Carle e que estará aberta até Janeiro. Estão lá três patos, um castor, um sapo e uma tartaruga encontrados na costa do Alasca. Os brinquedos são propriedade da família Orbison que durante vários anos se dedicou a resgatar os animais de borracha perdidos. Dean e o seu filho Tyler já recolheram 121.

in Público


VAMOS À CAÇA PESSOAL????

3 comentários:

Juka disse...

Vai ser inevitável: quem leu esta noticia, nunca mais mergulhará sem a intenção de encontrar um pato de borracha.

nix disse...

Este verão vou andar aí... quá quá quá

PROJETO NOVO IMPULSO disse...

Amada tem um ditado que diz" O mar não esta para peixe", no caso o mar esta cheio de patinhos rs.
A paz