09/06/2007

Apetece-me meter isto outra vez

Para o meu Pai

Só há duas coisas na vida que não se podem escolher: pais e filhos. Não tenho filhos mas se alguém me desse o direito à escolha, elegeria o Pai que tenho.
Do meu Pai herdei a preocupação com a família, o prazer de dar, a paixão pela vida e a nobreza de como sentia os seus amigos.
Por causa dele ainda olho para o relógio quando saio à noite e tento sempre chegar a horas.Por causa dele só adormeço descansada quando estão todas em casa.Por causa dele continuo a emocionar-me a ouvir a Ternura dos 40 do Paco Bandeira, quando ele diz "Meus Amigos, o importante é o sorriso".Por causa dele continuo a sonhar que a vida me pode ser doce, porque foi com Ele que aprendi a lutar pelo que quero. E foram tantas as coisas que aprendi e que fez com que eu crescesse. Meu Deus!
Não sei como poderia sobreviver sem o meu Pai. Mas sobrevivo. E agora? ...
Quem me acolhe quando estou preocupada e assustada? Quem é que divide comigo as preocupações da vida? Quem me vai dissipar as dúvidas e os receios? Quem me vai ensinar a escrever palavras com “dois ésses” quando teimo em escrever com um “Cê de cedilha”?
Se não fosse o meu Pai, não acreditava no amor incondicional, na amizade, na dedicação e no significado das palavras: Amor; Filhas; Protecção.
Se não fosse o meu Pai, achava que não haveria justiça humana.
Não me saiu na rifa uma Pai daqueles que deixam os filhos fazerem o que querem nem daqueles Pais compreensivos que até conversam com os filhos sobre sexo ou de como se pode proteger da sida. Não! Mas saiu-me um Pai que me entendia os meus ataques de estupidez com um simples olhar, que me acalmava o choro nas adversidades, que metia processos em tribunal a todos os que me faziam mal.
E com ele aprendi a partilhar, a respeitar e a ignorar quem me ignora. Aprendi a ler nos olhos dos outros e a ouvir no silêncio as mais belas palavras de Amor.
Aprendi também que nos aviões não se tem vertigens e neles não posso andar sem falar com o Manel Zé.
Aprendi coisas tão simples como carregar no Fn F6 para suspender o monitor do portátil porque também os monitores têm tempo de vida.
Aprendi coisas importantes como ser independente, respeitar quem me respeita e calar-me AGORA para poder falar mais tarde.
Aprendi a ouvir tudo sem pressas e ter uma palavra de ânimo para quem precisa.
Por isso quando o for visitar ao Cemitério dos Olivais, vou mergulhar na minha infância feliz e vou vê-lo com aquele sorriso iluminado e voltarei com toda a certeza ao melhor de mim e aposto que me vou sentir outra vez com dois anos, depois do nascimento da minha irmã, agarrada à perna dele, cheia de medo que ela mo roubasse ou então a ouvi-lo falar sobre as dinastias e os reis de Portugal e vou dar comigo a pensar que fui a miúda com mais sorte do mundo, que não há Pai como o meu, e que afinal tenho outra vez dois anos e voltarei então a agarrar-me à perna dele e sentir o seu mimo, a sua protecção; Filha pequenina até ao fim.

A todos os que me apoiaram, aos meus amigos grandes, às lagrimas, às flores, à saudade...
A todos...
Obrigada!

3 comentários:

Anónimo disse...

Já aqui venho algum tempo e não te conheço mas vim aqui quase sem querer e adorei o que escrevias. Sou mulher e em muitas coisas penso como tu e dai gostar de aqui vir só para te ler. Reparo que geras mesmo ódios e acredito que geres ainda mais amor. E este texto é das coisas mais lindas que li e arrepiou-me o sentimento que também senti enquanto o lia.
Muito Parabéns Lua

Lua disse...

Obrigada pelas tuas palavras. Não sei quem és mas gostei do que li.

Toni disse...

belo post não há que negar