02/04/2007

Análise ao Benfica/Porto e ao Académica/Leiria

Benfica e Porto empataram e o campeonato continua em aberto.
Empate que, ainda assim, foi um bom resultado para o Porto, pois que lhe permitiu averbar duas vantagens importantes – no confronto directo, em caso de igualdade pontual, e a de ser a única equipa que depende apenas de si para conquistar o campeonato.
Fernando Santos manteve-se fiel ao sistema e ao onze, ao passo que Jesualdo introduziu uma nuance no habitual 4x3x3 através da chamada de Jorginho à titularidade.
Não sendo um ala, Jorginho procurou zonas mais interiores e como que transformou o 4x3x3 num 4x4x2 em losango.
Defensivamente, foi-o.
Ofensivamente, só não o foi, porque Quaresma se assumiu como um extremo clássico.
A partida pode resumir-se lançando mão de um cliché do futebolês – Foi um jogo com duas partes distintas.
A primeira com controlo e domínio do Porto e a segunda com controlo e domínio do Benfica.
Em medidas distintas, mas a tendência geral do encontro foi de predomínio repartido por cada uma das metades do desafio.
Na 1ª parte, o Benfica, pura e simplesmente, não existiu.
Desde logo porque não conseguiu controlar emocionalmente o jogo.
O bloco excessivamente baixo que o Benfica apresentou foi sinal claro de que os seus jogadores sucumbiram à pressão do jogo.
Abúlicos e amorfos, não pressionaram, não encurtaram espaços, não ligaram a transição ofensiva, mantiveram sempre uma grande distância entre linhas, postaram-se sempre de forma muito recuada e retraída, não foram agressivos, não ganharam uma segunda bola que fosse, enfim, não existiram enquanto equipa.
Para lá do descontrolo emocional, a “ausência” de Katsouranis foi determinante.
Aliás, este foi um clássico de figuras, mas de figuras pela negativa.
Ao apagão de Katsouranis na primeira parte, respondeu Lucho no segundo tempo.
À invisibilidade de Simão respondeu Quaresma com idêntico desaparecimento.
As dinâmicas colectivas sobrepuseram-se às individualidades.
Katsouranis e Lucho estão “mortos”.
Lucho durou 45 minutos apenas porque já não jogava há duas semanas.
Os dois jogadores mais utilizados de cada uma das equipas mostram-se fisicamente exauridos.
E dado que ambos desempenham papel de primeira grandeza nos modelos de jogo das suas equipas, a sua “ausência” reflecte-se de sobremaneira na própria dinâmica colectiva.
Na 1ª parte, o Porto, para além de se ter apresentado mais pressionante e mais compacto, beneficiou da colocação de Jorginho para equilibrar as forças a meio-campo, mas também e muito da “ausência” de Katsouranis.
O Benfica que, em abstracto, teria superioridade numérica a meio-campo, fruto do seu sistema táctico contemplar mais uma unidade nesse sector, nunca materializou essa vantagem na medida em que na prática apenas surgiram três elementos nessa zona do terreno.
Aliás, quando Jorginho basculava para posições mais interiores, o Porto alcançava mesmo superioridade.
Assim, o Porto conquistou, com naturalidade, supremacia no encontro.
Mais agressivos, pressionando mais alto e preenchendo melhor os espaços, os jogadores do Porto faziam da posse e da circulação de bola a matriz essencial do seu modelo de jogo.
Todavia, o domínio e o controlo que o Porto exercia sobre o jogo se lhe permitia uma circulação de bola com qualidade, não encontrava materialização na criação de ocasiões de golo.
Na 1ª parte, apenas uma, após excelente passe de Lucho e não menos brilhante diagonal de Adriano a que Quim se opôs com intervenção de elevada categoria.
Deste modo, o golo do Porto surgiu inesperadamente num contexto de esterilidade do seu processo ofensivo.
Aos 43 minutos, na esquerda, Quaresma executou um livre, Anderson deixou fugir Pepe, Quim não saiu dos postes e o brasileiro apareceu ao 2º poste, livre de qualquer marcação, a cabecear para o fundo das redes encarnadas.
Estava feito o 0-1, que premiava o ascendente portista no jogo, pese embora a equipa azul e branca não tivesse até então construído oportunidades de golo que justificassem a vantagem alcançada.
Na segunda parte, Fernando Santos substituiu Katsouranis por Rui Costa e o processo ofensivo benfiquista conheceu outra alma, outro fulgor.
Por paradoxal que pareça, tal como verificado em outras ocasiões no passado, o golo portista acabou por libertar os jogadores benfiquistas da pressão emocional do jogo.
Em desvantagem, assumiram outra atitude, bem diferente da apatia evidenciada no primeiro tempo.
A letargia deu lugar à vivacidade e ao espírito de conquista.
Com Rui Costa em campo, o sistema táctico conheceu, por fim, execução prática.
A par desta reorganização estratégica do Benfica, o estouro físico de Lucho transformou a igualdade e por vezes inferioridade numérica da primeira parte numa superioridade que permitiu ao Benfica assumir as rédeas do encontro.
Com Lucho colocado sobre o flanco direito, o seu desaparecimento induziu o Benfica a explorar o lado esquerdo do seu ataque, nomeadamente por Léo, para desenhar os seus principais movimentos ofensivos.
Na segunda parte, só “deu” Benfica.
O domínio e o controlo da partida pertenceram, em exclusivo, ao Benfica.
O Benfica subiu as suas linhas, mormente o seu bloco defensivo, apresentou outra alegria e outra agressividade, imprimiu um ritmo e uma intensidade bastante altas, assumindo de forma absoluta a iniciativa do jogo.
A dimensão do domínio do Benfica foi de tal ordem que sufocou o Porto.
Na segunda parte, especialmente nos primeiros vinte e cinco minutos, o Porto não ligou uma única transição ofensiva, tendo-se limitado a defender.
O Benfica dominou, por completo, as transições, quer ofensivas, quer defensivas, encostando o Porto às cordas.
Rui Costa não emperrou a equipa, antes empurrou-a para uma segunda metade de grande nível.
Ao contrário do que havia sucedido no primeiro tempo com o domínio do Porto, a supremacia do Benfica encontrou expressão nas oportunidades de golo construídas (Nuno Gomes, Rui Costa e Miccoli podiam ter feito a igualdade).
Todavia, apenas aos 83 minutos de jogo, na sequência de um livre apontado por Simão na direita, o Benfica chegaria à igualdade.
David Luiz, grande jogo, cabeceou ao poste e Lucho viu a bola embater-lhe no peito e entrar na baliza de Hélton.
Estava feita justiça mínima no jogo.
Curiosamente, quer Simão, quer Quaresma, embora tenham estado "ausentes" do Clássico, revelaram-se decisivos nos golos obtidos pelas suas equipas, pois que os livres dos quais aqueles nasceram foram por eles executados.
Até final, o Benfica continuou a porfiar na busca do 2º golo, mas, embora Mantorras e Derlei tivessem beneficiado de duas excelentes oportunidades de golo, o empate manteve-se inalterado (diga-se em abono da verdade que Renteria no minuto final do jogo também dispôs de uma excelente ocasião de golo, mas atirou ao lado).
Resultado injusto, como os números finais do jogo demonstram:
O Benfica desenhou 37 ataques contra 19 do Porto, executou 22 remates à baliza contra 10 do Porto, beneficiou de 15 cantos contra 2 do Porto e teve a posse de bola durante 54 % do tempo de jogo ao passo que o Porto apenas durante 46%.
A dimensão do domínio de cada uma das equipas em cada uma das metades do jogo diz da injustiça do resultado.
O Porto dominou a primeira parte, mas a sua supremacia não se revelou avassaladora, nem encontrou correspondência na criação de ocasiões de golo.
Ao invés, a superioridade do Benfica na segunda parte sufocou o Porto e conheceu expressão na construção de oportunidades de golo.
Destarte, o resultado mais coincidente com a produção das equipas seria a vitória do Benfica.
Em Coimbra, a Briosa empatou a zero com o Leiria, num mau jogo de futebol em todos os sentidos.
As equipas apresentaram um futebol de baixa qualidade, o trio de arbitragem exibiu-se a idêntico nível e Manuel Machado presenteou os espectadores com uma actuação paupérrima.
Pior era impossível.
Apenas e tão só terá feito as piores substituições de sempre num jogo de futebol.
Conseguiu substituir os melhores jogadores da Académica na partida – Dame e Pittbull.
Como se não bastasse, para os lugares daqueles jogadores entraram dois jovens, um vindo de prolongada lesão e, como tal, sem ritmo e outro que se estreou no desafio de ontem.
Incompreensível.
A Académica podia ter ganho o jogo, mas a acção do seu treinador e a do trio de arbitragem obstaram a tal desiderato.
Artur Soares Dias apitou sempre em prejuízo da Académica.
Expulsou mal Káká, invalidou mal um golo a Dame e acumulou erros atrás de erros, o maior dos quais num lance em que beneficiou claramente o infractor quando assinalou uma falta no momento em que Pittbull surgia em posição privilegiada para assistir Filipe Teixeira para golo.
Está difícil a vida da Académica!

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