22/02/2007

Análise ao Porto/Chelsea

O jogo entre o Porto e o Chelsea, especialmente na 2ª parte, revelou a faceta que menos aprecio em Mourinho.
Mourinho é demasiado italiano na abordagem ao jogo.
Mourinho é demasiado pragmático, demasiado obcecado pelos equilíbrios, demasiado avesso ao risco.
A 2 ª parte do Chelsea foi de um cinismo atroz.
Mourinho havia dito que não estava obcecado pela vitória no jogo e a segunda parte foi reflexo dessa declaração de intenções.
Mourinho, após o golo do Porto e face à lesão de Terry, correu um risco que não queria, manifestamente, correr ao fazer entrar Robben e, consequentemente, ao abdicar do 4x4x2 em losango em detrimento do 4x3x3.
Perdeu superioridade numérica no meio-campo e equilibrio estrutural e isso Mourinho só tolera quando em desvantagem.
Ao igualar a partida poucos minutos após ter substituído Terry por Robben, estou convicto que a sua vontade mais profunda seria tirar de imediato Robben e introduzir Obi Mikel por forma a devolver à equipa o equilíbrio e a superioridade perdidas.
Vá lá que só o fez ao intervalo.
Obtido o empate, Mourinho, em vantagem na eliminatória, modelou a sua equipa a uma matriz de expectativa, de espera, entregando a iniciativa do jogo ao Porto.
Nem sequer espreitou, verdadeiramente, o erro portista. Apenas nos 10 minutos finais, o Chelsea se espraiou um pouco mais no terreno, mas, ainda assim, sem comprometer a transição defensiva.
Este cinismo, esta busca permanente pelo equilíbrio constante da equipa na transição defensiva, é o lado lunar de Mourinho ou por outras palavras a faceta italiana de Mourinho.
O não jogo do Chelsea na 2ª parte compromete qualquer perspectiva de espectáculo, mas garante eficácia e eficiência e isso para Mourinho é mais importante do que qualquer outra coisa.
Claro que Mourinho não se resume, nem se esgota como treinador no primado da eficácia e do pragmatismo.
As suas qualidades vão muito além disso.
E, o jogo de ontem, também revelou algumas.
Desde logo, a sua impressionante capacidade de intervir no jogo.
Mesmo com o jogo a decorrer, Mourinho procura condicionar o adversário e o árbitro e, simultaneamente, potenciar a auto-estima dos seus jogadores.
Mourinho dialogou com Quaresma, procurando tirá-lo do jogo ou, pelo menos, abalar-lhe a confiança, contestou as mais relevantes decisões arbitrais e ainda conseguiu estimular os seus jogadores, mormente aqueles que pela sua juventude e pelas circunstâncias da partida mais carecidos estavam de acção psicológica (v.g. Diarra, jovem adaptado a lateral direito que na 1ª parte passou um mau bocado com Quaresma e que foi constantemente aplaudido por Mourinho).
Depois, a sua leitura do jogo.
Quaresma assumiu-se como o principal foco de perigo azul e branco.
Mourinho percebeu-o e escalou Makelele como auxiliar de Diarra na sua marcação. Resultado: Quaresma desapareceu do jogo na 2ª parte.
Quando em desvantagem, não hesitou em fazer entrar um desequilibrador e em alterar o sistema táctico e o modelo de jogo, sapiente que estava da interiorização pela equipa dos automatismo inerentes à nova realidade.
Ganhou a aposta e o Chelsea foi, verdadeiramente, perigoso e acutilante em 4x3x3 e com Robben em campo.
Ao intervalo, outros traços da sua personalidade enquanto treinador vieram ao de cima e abjurou o futebol, restabelecendo a ordem inicial.
Foi fiel ao que havia prometido – Um jogo com 180 minutos e, assim, jogou com a vantagem obtida.
Lamento, mas Mourinho é assim – qualquer ponta de desorganização é um caos.
O Porto não entrou bem no jogo.
Não conseguiu controlar emocionalmente a partida desde início.
A ansiedade tomou conta dos seus jogadores e os primeiros minutos não auguraram nada de bom.
Todavia, o golo de Meireles tudo alterou.
O Porto serenou e embalou para uma boa exibição na 1ª parte.
Nem mesmo o golo do empate do Chelsea fez abalar a confiança dos jogadores portistas, que indiferentes a isso continuaram a labutar no sentido da obtenção do 2º golo.
Este foi, sem dúvida, o melhor período do Porto no jogo.
Até ao remate de Quaresma que embateu na barra da baliza de Cech, o Porto esteve por cima no jogo.
Podia e devia ter logrado o 2º tento.
Contudo, a sua melhor ocasião de golo em todo o jogo, como que constituiu o canto de cisne da equipa.
Se acontecimento houve que mexeu negativamente com a equipa foi, precisamente, o remate de Quaresma à barra.
A equipa como que desacreditou nas suas chances de vitória a partir desse momento.
O Porto autoritário e confiante desapareceu e ressurgiu, então, o Porto descrente e temeroso do dealbar da partida.
É evidente que o cerrar de portas do Chelsea na 2ª metade, a par da quebra física de Lucho e Paulo Assunção e das substituições de Jesualdo, em muito contribuíram para o desempenho menos conseguido da 2ª parte.
Não obstante, mentalmente a equipa não estava já preparada para vencer.
O cinismo inglês da 2ª metade, entregando totalmente a iniciativa de jogo ao Porto e remetendo-se ao seu meio-campo, cerceou as pretensões ofensivas do Porto.
Sem espaços torna-se muito mais difícil desenvolver o processo ofensivo e quando quem defende o faz com jogadores da estirpe de Cech, Carvalho, Essien, Lampard e mesmo Drogba tudo assume um grau de dificuldade ainda maior.
Na 1ª parte, Lucho e Assunção deram sempre à equipa o equilíbrio que não comprometia a transição defensiva.
A sua superior ocupação dos espaços foi sempre garantia de consistência defensiva na transição.
Podia o Porto aventurar-se no ataque que Lucho e Assunção asseguravam o posicionamento defensivo.
Lucho e Assunção caíram fisicamente na 2ª parte e a equipa ressentiu-se e não mais se mostrando tão afoita como antes.
Jesualdo mexeu mal na equipa.
Introduziu factores de perturbação, que numa equipa em quebra anímica são fatais.
Primeiro, tirou Meireles e fez entrar Marek Cech, o que se não implicou uma alteração estrutural, pelo menos importou uma modificação substancial de estilo.
Marek Cech é mais audaz que Meireles, criando mais desequilíbrios ofensivos, mas também menor consistência defensiva.
Foi um factor de ansiedade e de perturbação numa equipa que vivia obcecada com a possibilidade errar.
Uma substituição ofensiva poderia ter tido o condão de despertar a equipa, mas, neste caso, produziu o efeito contrário – acentuou a intranquilidade.
A equipa não recebeu bem esta alteração e Jesualdo, justiça lhe seja feita, percebeu-o rapidamente.
Tirou Fucile e fez entrar Bruno Moraes.
Cech recuou para lateral e Moraes postou-se atrás de Postiga.
Todavia, como supra dissemos, a equipa não estava, nesta altura, capaz de encarar uma possível vitória e, assim, também não absorveu com proveito esta substituição.
Por fim, tirou Postiga e fez entrar Adriano, na mais inócua das modificações que operou.
O Porto podia ter ganho o jogo, assim tivesse aproveitado o ascendente que conseguiu na 1ª parte, que é como quem diz tivesse tido um bocadinho mais de felicidade no remate de Quaresma.
O Chelsea jogou q.b., no estrito cumprimento do plano que Mourinho traçou para a eliminatória.
Interessava-lhe garantir vantagem para o 2º jogo e conseguiu-o.
Como tanto gosta, jogará a 2ª mão em superioridade psicológica e no marcador.
Tem tudo a seu favor.
O primado da racionalidade, do pragmatismo e do resultado impôs-se uma vez mais.
Mourinho ganhou, mas o futebol perdeu uma vez mais.

6 comentários:

PanKreas disse...

Vê lá se o Rui Santos te rouba o comentário!

Vermelho disse...

amigo pankreas:
não fales desse gajo que eu simplesmente abomino.
não tenho paciência para o rui santos.
abraço.

Lua disse...

Gostei da parte em q dizes que eu sou boa mesmo boa. o resto para mim é desprovido de interesse!! ahahahahah

Vermelho disse...

Querida Lua:
já calculava.
nunca tive dúvidas a esse respeito.

Lua disse...

Ena! Sou assim tão previsível?
Raios!

Namoradinha de Coimbra disse...

Quem fala assim não é gago!

E honra lhe seja feita:um homem com classe, estilo, charme, beleza q.b. e ainda inteligente!!! é uma ave rara...